Com a remuneração das corretoras e dos assessores de investimentos mais transparentes desde novembro de 2024, investidores começam a ter de decidir como desejam pagar pelos serviços. Na maior parte dos casos, tendo de escolher entre comissões pagas pelos produtos vendidos ou uma taxa fixa anual paga sobre o valor total investido.
Achou complicado? Vamos descomplicar.
Esses dois modelos devem conviver daqui em diante — e não existe um melhor que o outro, mas, sim, o ideal para cada investidor. Comissões compensam para aqueles que não demandam dos assessores ou não mexem muito na carteira. Já o modelo de taxa fixa, para quem deseja contar com conselhos dos assessores, mas sem a preocupação de uma indicação estar sendo feito por render melhores comissões ao profissional.
• A carreira de assessor de investimento é relativamente nova no Brasil, mas cada vez mais presente conforme aumenta o número de investidores. Eles trabalham para corretoras distribuindo seus produtos. O número de profissionais quase triplicou em cinco anos, disparando de 9,6 mil em dezembro de 2019 para 26,7 mil em dezembro de 2024. Com esse avanço e a busca por uma relação mais transparente com os investidores, esquentou também o debate sobre as formas de remuneração.
• No modelo de comissão, os assessores ganham uma remuneração variável segundo o produto investido pelo cliente. É a corretora que paga essa remuneração. Já no modelo de taxa fixa anual, mais comum nos Estados Unidos e na Europa, os assessores ganham um percentual sobre o patrimônio total investido pelo cliente anualmente. É o cliente que paga essa remuneração.
Nesse segundo modelo, a taxa varia normalmente entre 0,4% e 1% ao ano. Quanto maior o patrimônio investido, menor é a taxa. O investidor recebe de volta, como um desconto (ou “cashback”, para usar a palavra da moda) as comissões que os assessores ganham pelos produtos vendidos.
Na maioria dos escritórios, no entanto, as comissões ainda são o mais comum.
Nas maiores plataformas de investimentos, só a XP oferece hoje a possibilidade dos escritórios cobrarem dos investidores uma taxa fixa, mas outras corretoras discutem iniciar também. Contudo, o modelo novo está avançando nas assessorias porque as comissões pagas pelos produtos vendidos passaram a ficar mais claras, desde que entrou em vigor a resolução CVM 179, em 1º novembro.
A ideia é que os investidores passem a ver quanto estão pagando e comecem a escolher mais e melhor pelo serviço, o que incentiva a busca pelo modelo de uma taxa fixa alinhada com o cliente.
“Pelo menos 10% das assessorias de investimentos já estão com esse modelo de taxa fixa e esperamos que ele aumente bastante em 2025”, afirma Guilherme Miziara, responsável por negócios para profissionais da Gorila. “Vivemos um período em que as assessorias eram iguais, mas agora cada uma está se desenvolvendo e entregando um serviço diferente. E os clientes estão começando a mudar a percepção sobre o que é esse serviço e o que diferencia uma assessoria da outra.”
Mas existe mais um motivo para mais assessorias estarem oferecendo a taxa fixa: juros altos e a competição com investimentos de renda fixa com comissões mais baixas. Nesse cenário, ganhar dinheiro está mais difícil para os assessores e, em alguns escritórios, a taxa fixa é uma forma de ganhar mais ou de, no mínimo, ter uma receita mais previsível.
Em meio a tantos interesses, é importante entender qual risco se está tomando ao escolher entre um tipo de remuneração e outro. No caso das comissões, o maior perigo em jogo é levar a transações excessivas que não estão alinhadas aos interesses dos investidores. Já na taxa fixa, o custo alto não ser compatível com o serviço oferecido.
Fonte: Valor Investe