Tokenização abre mercado de capitais para médias empresas

No ano passado, Lucas Carvalho, executivo da Redepetro, distribuidora de combustíveis com sede em Ribeirão Preto, começou a pensar em opções para captar recursos para reduzir o custo de uma dívida existente. No primeiro momento, o mercado de capitais estava fora de cogitação. “Numa emissão de forma tradicional, via a letra de crédito, certificado de recebíveis ou debênture, o custo de estruturação não compensaria para uma operação pequena como a nossa, de R$ 6 milhões, pois só de taxas pagaríamos algo entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões”, diz ele. Até que surgiu uma nova opção: o lançamento de tokens de renda fixa digital. 
Em outubro passado, a empresa captou a quantia almejada numa operação conduzida pelo MB Corporate, unidade do Mercado Bitcoin (MB) com foco no mercado de capitais. “A transação reflete a ampliação da confiança na tokenização de ativos reais, também conhecidos como Real World Assets (RWA)”, diz Vitor Delduque, diretor do MB Corporate. 
Ele detalha a transação: “A nota comercial foi primeiro comprada pelo nosso fundo, um FIDC gerido pela Iggy, para depois tokenizarmos e ofertarmos para o público”. Os tokens, todos já vendidos, foram comercializados pela plataforma do MB, que pode ser acessada tanto por investidores finais como por corretoras interessadas em oferecê-los aos clientes. Com vencimento em 2029, os ativos, pós-fixados, têm rendimento de 3% ao ano, mais variação da Selic.
Segundo Delduque, as emissões de operações semelhantes no MB costumam variar entre R$ 5 milhões e R$ 50 milhões. “São volumes que não interessam aos grandes bancos, que, nas operações convencionais, buscam negócios de centenas de milhões”, diz ele.
No ano passado, segundo o executivo, a MB Corporate lançou 256 milhões em tokens, em captações realizadas por por empresas com faturamento anual entre R$ 250 milhões e R$ 3 bilhões. “Depois do problema com a Americanas, ficou muito difícil captar no mercado de crédito e, como resultado, empresas maiores também passaram a nos procurar”, diz.
Para 2024 a meta, segundo ele, a meta é quadruplicar a quantia, para cerca de R$1 bilhão. “Estamos bem otimistas para este ano”, diz. Segundo ele, a maior parte das emissões é lastreada com recebíveis, como contratos de energia, aluguel, cartão de crédito e nota fiscal de prestação de serviço. “Com recebíveis como lastro, a dívida não entra no passivo do balanço, o que ajuda a empresa, caso depois queira contrair crédito bancário ou buscar novas captações”, afirma ele.
Futuro promissor
O CEO da Vórtx QR Tokenizadora, Fernando Carvalho, menciona outra vantagem da tokenização. “Com o blockchain, é possível controlar toda a história de um ativo, desde sua emissão até cada carteira em que foi distribuído”, afirma. “Isso possibilita uma escrituração perfeita.”
O executivo também aposta no crescimento do segmento. “É um mercado que está nascendo agora e tem um grande potencial, com a tokenização de diferentes ativos financeiros e até não financeiros”, diz. Na sua opinião, a modalidade deve ganhar força nos próximos anos com o surgimento de plataformas para negociação de diferentes ativos tokenizados no mercado secundário. “Acredito que surgirão ambientes de negociação alternativos à B3, que utilizarão blockchain e estarão integrados ao Drex, o real digital, para processos de liquidação”, prevê.
Para ele, essa esperada expansão do mercado secundário deve incentivar a demanda por novos ativos tokenizados. “Quando há um mercado secundário saudável, passa a existir também um mercado primário saudável, pois, com o aumento da liquidez, o investidor que compra inicialmente sabe que pode sair do ativo com mais facilidade”.
 Atualmente operando sob a chancela da CVM no sandbox regulatório (ambiente experimental para testar produtos e serviços financeiros inovadores), a Vórtx QR já tokenizou três debêntures que, juntas, somam R$ 182 milhões. Os ativos foram comprados pelas tesourarias do Itaú e do Santander.  

Fonte: Capital Aberto