Adeus à Bolsa: OPAs podem gerar perdas de até 90% para o investidor

O buy and hold é uma estratégia bem conhecida e defendida no mercado. Nela, o investidor compra um ativo porque acredita naquela tese de investimento e o mantém na carteira mesmo nos ciclos de forte queda nos preços, justamente por apostar na valorização do papel no longo prazo. Mas, quando a ação está em baixa, a estratégia pode ser interrompida pela notícia de que a empresa está deixando a Bolsa de Valores.
Essa é uma história que tem acontecido cada vez mais com investidores brasileiros. Desde 2022, a B3 não registra nenhuma Oferta Pública Inicial (IPO) — operação que lista as ações de uma companhia na Bolsa pela primeira vez. No entanto, a operação reversa, de fechamento de capital (OPA), tem acontecido cada vez mais.
Somente nesta semana, surgiram notícias sobre possíveis saídas da Bolsa da Desktop (DESK3) e da CBA (CBAV3). Isso sem contar os processos que estão em tramitação ou já foram concluídos este ano, como Kora Saúde (KRSA3), Serena Energia (SRNA3), Eletromidia (ELMD3), Wilson Sons (PORT3), Santos Brasil (STBP3) e outros.
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Quem sai perdendo nessa história é o investidor, especialmente aquele que mantinha a posição há mais tempo.
O E-Investidor produziu um levantamento para mapear esse impacto. Listamos as OPAs registradas no Brasil neste ano e mapeamos, a partir de dados disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e na B3, o preço oferecido aos acionistas por cada papel nas respectivas operações. Em seguida, com a ajuda da Economatica, apuramos o preço máximo que cada empresa chegou a valer na Bolsa, para calcular a diferença entre os dois momentos.
A ideia era entender o tamanho do impacto da OPA para o investidor que ficou com a ação por muitos anos — do auge à desvalorização. Em alguns casos, o prejuízo foi grande. 
O preço oferecido nas operações, geralmente bem descontado, como mostra o levantamento, faz com que algumas OPAs sejam embargadas ou até judicializadas. Este ano, a família fundadora do grupo Toky (TOKY3), resultado da fusão entre as marcas Mobly e Tok&Stok, tentou adquirir o controle da companhia e fechar o capital com uma oferta de R$ 0,68 por ação. Se tivesse sido aprovada nesse preço, seria um desconto de cerca de 97% em relação aos R$ 26,4 que o ativo, à época MBLY3, chegou a valer em 2021. A OPA acabou não saindo do papel.
Um estudo feito pela Seneca Evercore para o E-Investidor mostra que é justamente a queda do preço das ações que levou ao aumento das operações de fechamento de capital nos últimos anos. Entre 2016 e 2021, quando o preço sobre lucro (P/L) médio do Ibovespa era de 13,5 vezes, ocorreram somente 8 OPAs no Brasil; uma média de 1,3 ofertas por ano. Desde 2022, no entanto, o P/L caiu 48%, para uma média de 7,0 vezes. De lá para cá, foram 17 OPAs, uma média de 4,5 ofertas por ano.
É uma história que tem a ver com os juros — a taxa Selic subiu de 2,00% ao ano em meados de 2021 para os atuais 15,00% ao ano. Não por coincidência, foi nesse período que as ações brasileiras viveram ciclos de baixa, o apetite por risco de investidores secou e a janela de IPOs se fechou. Não houve nenhuma nova listagem na Bolsa desde 2022.
“São dois efeitos principais. A taxa de desconto faz o valor da empresa ser mais baixo, enquanto, justamente pelos juros serem altos, ela não consegue fazer os investimentos que precisa fazer para entregar o crescimento que prometeu para o investidor”, diz Wainstein.
Fonte: einvestidor.estadao.com.br